7.4.16

A dor não nos matará

Estou sendo levada a crer que há dois tipos de textos e narrativas. As que o autor deixa bem claro o que ele quer dizer e as em que o autor deixa pra que, nós leitores, achemos nas entrelinhas de suas frases a mensagem que quer passar. O "Faça boa arte" é um discurso que figura entre meus queridinhos e exemplifica o primeiro tipo, já o "A dor não nos matará" acabou de ser apresentado a mim e faz parte do segundo grupo, e é por causa dele que este texto está sendo escrito.

Enquanto que Neil Gaiman deixa bem claro o que quer de nós, no caso, que façamos boa arte, Jonathan Franzen faz diferente. Ele fala, e fala de tecnologia e redes sociais, de amor, de pássaros e BlackBerry's, mas não deixa tão claro assim o que quer de nós. E apesar, de que todo texto sempre nos faz pensar em muito mais do que está sendo dito em seus parágrafos, esses que exigem que eu olhe pras entrelinhas, pras ligações implícitas entre uma historinha e outra, me instigam a refletir mais sobre mim e minha vida ou o momento em que estou, do que os outros.

E eu não estou aqui hoje pra falar sobre os pássaros, os blackberry's e os "curtir", porque Franzen já fez isso, e provavelmente de maneira muito mais articulada do que a que eu faria. Eu estou aqui pra falar de mim mesma (o que sempre faço nesse blog, nas entrelinhas ou não), e pra tentar entender todas essas pequenas questões que, às vezes me ocorrem enquanto leio um discurso que estava aqui salvo há mais de um mês, depois de ter sido indicado pela Ana Vitória na sua newlestter.
Vamos lá, peixinhos!

Franzen fala muito sobre curtir as pessoas e sobre amar uma pessoa:
"Não existe a possibilidade de curtir todas as partículas de uma pessoa real. É por isso que um mundo de curtição é, no limite, uma mentira. Mas é possível amar cada partícula de uma pessoa real."
"Tentar amar toda a humanidade pode ser um esforço digno, mas ironicamente mantém o foco em nossa individualidade, em nosso próprio bem-estar moral ou espiritual. Ao passo que, para amar uma pessoa específica e identificar-se com suas lutas e alegrias como se fossem suas, é preciso abrir mão de parte de si. "
 O que eu descobri é que quando mais se ama todo mundo, não se ama ninguém. E quanto mais amigos se tem, não se tem amigo nenhum. Há todas essas pessoas que guardo no peito, mas nenhuma que possui meu coração em sua maior parte. E todos esses amigos que gosto tanto, que gostam de mim tanto, que eu posso contar nas horas difíceis, mas nenhum que represente um único. Que eu posso contar em cada pequena hora. E já não sei o que isso quer dizer. Não há uma pessoa com a qual eu possa falar de todo e cada assunto. De cada parte da minha vida. E isso vai muito além da dificuldade em amar...

Não que isso seja ruim. Não é. Eu agradeço muito por ter essas pessoas, mas é que às vezes fica meio sei lá... ("Sei lá", como sou boa descrevendo sensações, não é mesmo? )

E é tão fácil curtir uma ou outra partícula, e tão mais difícil e complexo amar cada partícula de uma pessoa real. De um ser humano de carne e osso, cheio de falhas, cicatrizes e contornos não tão bonitos assim. Curtir é tão superficial. Amar é tão profundo.

Mas "amar" não é uma matéria na qual eu tenha sido uma boa aluna. Isso já faz algum tempo. Foi algo que eu fiz pra mim mesma. Em contrapartida parece que cada vez mais tenho sido boa em curtir as pessoas. A internet torna isso tudo tão mais fácil. Com todas essas pessoas maravilhosas que você só vê de longe. Que não tem contato com a dor, com as caras feias e os dias mau humorados. Com as palavras mal ditas, e a falta de gentileza. Ah "como são maravilhosas as pessoas que não conhecemos bem"*, e ah como é fácil "amar" quando não se vê os defeitos, quando não se vê o pior. E como é difícil a convivência, as estranhezas do dia a dia... Estar de cara não só com o pior dos outros, mas com o seu, porque ele se mostra quando se está com essas pessoas.
*quem é o autor disso?

Por fim, se for pra que meu texto deixe alguma mensagem, eu queria dizer pra que vocês não tenham medo da dor, ela não nos matará. Ela não nos matará. Eu gostaria de dizer pra que amem o quanto puderem, sempre que puderem. E façam o melhor que puderem com esse amor e com as consequências dele.

Eu continuarei... A dor não me matará. Nem agora e nem quando eu, finalmente, conseguir senti-la por amar cada partícula de uma pessoa.

2 comentários:

  1. sabe quando a gente precisa ler alguma coisa e não sabe o que, mas de repente acha e tudo faz um sentindo absurdo?
    Lena eu tava com saudades de ler seus posts. Tenho sido uma péssima leitora nos últimos dias, e sinto que nem vou conseguir fazer maratona para comentar aqui( apesar de que eu sempre leio os seus posts). Tenho sido péssima em vários sentidos então peço que entenda e desculpas...
    Esse texto nossa! Vai parecer meio estranho mais não parece que foi a Helena de 17 anos que escreveu, mas uma helena com uns 30 anos que entende cada palavra dessas por tê-las vivenciado.
    Concordo com tudo aqui.
    não sei muito o que dizer além de obrigada(?)

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    1. <3 Eu não sei porque você diz obrigada, mas eu que agradeço por esse comentário.
      Nãos ei se conheço essa sensação, mas nooosa se meu texto foi isso pra você eu só tenho que ficar com o coração quentinho, né? ahha
      Não precisa se desculpar por nada, eu já acho maravilhoso que você leia tudo. (essa parte do comentário me fez pensar que o paraíso astral tá deixando a gente achando que tá sendo péssima, como lidar? em que por a culpa?)
      !!! UOL. nem sei o que dizer quanto a isso.

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