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20.12.18

Meu peito não consegue inspirar todo o ar que preciso.
Meus braços são curtos demais para abraçar o mundo que quero.
Meus passos muito pequenos para chegar tão rápido.

O tempo não é o suficiente.

- Angústia

9.12.18

Quando bate aquela saudade

Maria a tinha visto um ano atrás, também no sete de setembro.
Não por acaso insistiu com a família para alugarem com os tios a mesma casa de praia para o feriado deste ano. Ninguém sabia que um ano antes naquela noite que Maria voltou de manhãzinha antes de qualquer um acordar estava com a garota dona da casa vizinha. Não sabiam que elas tinham dormido na praia, perto das pedras altas e escuras do lado sul, porque estavam cansadas demais para se darem conta que estavam caindo no sono sobre um cobertor na areia depois de terem andado tanto e beijado tanto. Ninguém sabia de nada sobre aquele sábado perfeito antes de tudo acabar num domingo cinzento. Então não houveram desconfianças de seus motivos. 
E a própria Maria tentava não pensar que muito dos seus motivos giravam ao redor de uma mesma garota de olhos grandes e pretos. Ocupava-se com os outros, que não tinham a ver com ela: A praia com poucas pessoas; a sorveteria há alguns quarteirões de distâncias com o melhor milkshake de café com creme de avelã que ela já havia provado; as conversas com o primo Otávio que adorava tanto, mas via tão pouco; o café da manhã na mesa grande compartilhado com toda a família; as caminhadas com a mãe e a tia ao pôr do sol. 
No entanto, quando o carro parou em frente à casa e sua irmã mais nova saiu correndo, carregando a pelúcia de robô que havia ganhado no último aniversário, Maria não conseguiu evitar olhar para os vizinhos, perscrutar a entrada em busca de indícios da presença dela, mas não havia qualquer sinal de que haviam pessoas lá, de que ela estava lá. 
Percebeu que o feriado poderia se transformar em longos dias angustiantes na dúvida crescente se ela estaria ali, se a veria, como estaria...? Ainda teria os cabelos no ombro? Ainda poderia segurar sua mão? Entregar todos os beijos que passou o último ano querendo entregar? Ainda pegaria no sono cansada e acordaria outra vez ao seu lado, sem saber bem como aquilo havia acontecido? Encontraria seus olhos e pensaria que amava aquela garota que mal conhecia, e diria em voz alta sem pensar, mesmo sabendo que não poderia amar alguém assim tão rápido? 
Percebeu que estava com saudades de tudo e, enquanto puxava sua mala do porta malas cheio, desejou baixinho que houvesse uma segunda vez para elas.
 ***
Maria havia ficado sozinha na praia depois de Otávio ir tentar a sorte em conseguir alguma bebida da cozinha sem que seus pais vissem, com sorte o champanhe. Mas já fazia um tempo desde que ele havia subido e não voltara ainda. O sol havia se posto agora e a escuridão começava lenta e gradativamente a encobrir tudo. 
Maria não estava preocupada, no entanto, o dia havia sido longo e praticamente perfeito com seu primo na praia. Quase não pensou em sua vizinha, quase porque ela acabava aparecendo no fundo de sua mente quando menos esperava por conta de um sorriso, uma piada, um canto específico da praia.
Maria deixou a cabeça cair para trás até recostar na cadeira e ficou encarando o céu esperando as primeiras estrelas. 
Ela ouviu Otávio se aproximando e o barulho do seu corpo ao sentar-se ao seu lado.
— Conseguiu o champanhe? — um sorriso veio automaticamente, e sentiu que isso também pedia um pouco de esforço, estava mais cansada que imaginou.
Não houve respostas, mas uma risadinha veio logo. Maria voltou sua cabeça ao normal antes de conseguir ver a primeira estrela. Era ela ao seu lado, os olhos pretos pareciam ainda maiores e mais profundos, seus lábios desenhavam um sorriso sereno e Maria quis beijá-la, sem dizer nada antes, sem perguntar coisa alguma, sem acabar de absorver sua presença primeiro. O cansaço sumiu de seu corpo como se nunca houvesse estado.
— Oi! — Seus olhos estavam fixos em Maria como os de Maria nela. 
— Oi — se obrigou a dizer e tentou em vão parar de encará-la.
Maria olhou com mais cuidado agora, ela estava diferente do que se lembrava, os detalhes haviam sumido da sua mente nesse intervalo de um ano, percebeu. A pinta na bochecha, o espaço entre os dentes... havia se esquecido. O cabelo, no entanto, continuava o mesmo, em ondas caindo até os ombros. Sua pele estava queimada de sol, e as bochechas pareciam começar a descascar, mas na pouca luz era difícil ter certeza. 
— Quer mergulhar? 
— Claro— não precisou pensar para responder.
Maria tentou não encarar enquanto sua companhia tirava a blusa na cadeira ao lado, depois correram para o mar. O vento bagunçava os cabelos de Maria e isso a fazia rir. 
Depois, quando se beijaram na água seus lábios estavam salgados. Ia tudo dar errado, mas Maria não se importou com isso e sabia que para ela também não importava. A beijou outra vez, era só isso que importava agora. 

-Helena Guimarães
***


7.9.18

Uma conversa, um poema

eu você
você eu
não e,
talvez é

teus olhos
me vêem
como eu
me vejo

e como
às vezes
não vejo
mais

mas gostaria
de me
ver
pelos teus olhos

é tarde
há palavras
que precisam
sair

para, talvez
encontrar um peito
que saiba
como é

não saber

coisas que
não temos
certeza se
deviam ser ditas

mas que
precisavam
ser ouvidas

compartilhadas
numa procura
por não sei o quê

talvez eu
talvez você
eu você
você eu
- helena 

30.7.17

Hygge, um conto

Oi, mundo!

Dia 19 desse mês, fez um ano que eu publiquei meu primeiro conto, Quarto minguante lá no Wattpad, vieram outros depois desse, nenhum aqui no Luft. Mas hoje nessa manhã de domingo será o dia em que tudo mudará! SIM, TEMOS CONTO NOVO E INÉDITO!!!

Para um blog de nome sem tradução, um conto de título também sem tradução: Hygge. Lê-se "hoo-ga", é uma palavra do dinamarquês, segundo o dicionário do bem, que significa entre outras coisas, "ter prazer na presença de coisas leves e suaves, paz". E pareceu o único título possível para minha história que no final é só sobre a paz e o prazer nas coisas simples e pequenas de uma manhã de domingo tranquila. Espero que vocês também se sinta em paz lendo!

Sem mais delongas...



Os raios de sol fazem um caminho da janela até a mesa de madeira, refletindo no vidro da tigela com uma dúzia de laranjas, ainda em processo de amadurecimento, que mamãe comprou ontem na feira. O centro de mesa com crochê embaixo da tigela está amarrotado — eu o estico. Encho um copo com água da torneira e sento na ponta da mesa para não interromper o caminho da luz. 
Ouço o vizinho falar com seu cachorro; são 07:56 da manhã, eles devem estar prestes a sair para correr. Bebo a água enquanto acompanho com os dedos os bordados de rosas amarelas e folhagens verdes no centro de mesa. Consigo ouvir o vizinho e o cachorro descerem as escadas e fico na espera da batida alta do portão de ferro ao ser fechado.
Completo a água no copo mais uma vez e abro a janela para regar o cacto e as suculentas no peitoril. Tomo cuidado para não colocar água demais nos três pequenos vasos coloridos. Amarelo para Órion, o cacto, rosa para Alnitaka e roxo para Mintaka. Alnilan, a terceira das suculentas e a segunda das Marias na constelação, morreu há dois meses; seu vaso era turquesa. Agora ele fica escondido na área de serviço, retirado de sua função.
Quando acabo, deixo a janela aberta e a brisa fria faz com que os pelos dos meus braços se arrepiem. Vou atrás de algo para esquentar e encontro o cardigã verde escuro de mamãe esquecido sobre o sofá. Ele sempre parece mais macio e quente do que qualquer um dos meus. O tecido pesado faz um contraste engraçado com minhas calças e a blusa fina do meu pijama listrado ao colocá-lo. Com a pouca luz na sala a essa hora, os sofás parecem especialmente convidativos, mas meu estômago ronca e tenho de voltar para cozinha. Assim que ligo o fogo para fazer chocolate quente ouço a porta do quarto se abrindo e mamãe caminhando até o banheiro. Ela conversa animada com nossa gata, Geórgia, sua voz ecoa pelo corredor.
Mamãe entra na cozinha alguns minutos depois, de moletom azul marinho combinando e cabelos presos. Ela beija minha testa ao me dar bom dia, Geórgia vem logo atrás dela e se esfrega em minhas pernas; eu acaricio o pelo malhado do lado do seu corpo com o pé, tomando cuidado para não me desequilibrar e nem parar de mexer o leite. Mas não consigo manter o equilíbrio por muito tempo e desisto.
— O que você está fazendo, filha?
— Chocolate quente — digo e ela emite um som de satisfação.
— O que acha de biscoitos para acompanhar? E talvez pão de queijo? — Ergue as sobrancelhas para mim. Eu sorrio. Mesmo que pão com manteiga tenha todo o charme do mundo, eu não reclamo de variar um pouquinho. E hoje é domingo, isso pede refeições diferentes.
Mamãe diz que volta em um minuto e sai pela porta em busca da nossa comida, e Geórgia se cansa dos meus pés e sobe em uma das cadeiras da cozinha. Toda a companhia que tenho. Isso me deixa em paz. Quando mamãe volta, os chocolates quentes já não estão mais tão quentes, estão do jeito que gostamos — mas que ela nunca consegue esperar ficar quando está por perto e sempre acaba com a língua queimada. Ela coloca o saco de biscoitos em cima da mesa e prova do seu chocolate. Diz que está delicioso e me agradece por tê-la esperado. Balanço a cabeça como se não fosse nada.
O pão de queijo tinha acabado, segundo mamãe, a próxima fornada ainda iria demorar uns dez minutos para sair, a padaria estava movimentada e ela achou melhor não esperar. Mas eu não me importo, ter biscoitos no café da manhã sempre me faz acreditar que aquele será um bom dia. A massa crocante por fora e macia por dentro, ainda quente, o gosto salgado que fica em minha boca, e que vai embora depois com o chocolate quente, eu adoro cada detalhe. Mamãe molha seus biscoitos na caneca de leite antes de comê-los — houve uma época em que achava isso um tanto nojento, mas hoje não. Acabamos devorando o saco todo de biscoitos, como duas crianças, enquanto conversamos.
Mamãe fala de um vestido que viu na vitrine da sua loja preferida — caro demais, vamos esperar por uma liquidação. Falo sobre o próximo lançamento daquela poeta que gostamos — não me lembro mais a data, mas mamãe acha que é em novembro. Pergunto sobre a viagem que vovó fará para o nordeste — daqui a um mês, ela ficará cinco dias fora e quer comprar um óculos de sol novo. Ela pergunta se sairei com meu pai à tarde — esse final de semana não combinamos nada—, ou com Juliana — também não combinamos nada. Eu pergunto sobre o homem que ela saiu na sexta — ela não respondeu a mensagem que ele mandou ontem. Ela pergunta se eu achei alguém naquele aplicativo — É Tinder, mãe, e não, eu desinstalei.
Nos atualizamos da vida uma da outra. Não há pressa, nem barulheira. Ninguém precisa chegar ao serviço em 20 minutos ou conseguir estar em dois lugares ao mesmo tempo ou revisar uma matéria para entregar até o almoço. Domingos são sagrados para ficar em paz. Não ouvimos músicas, nem no rádio, nem em nenhum aplicativo de streaming. A música errada pode simplesmente cortar o silêncio da forma incorreta e quebrar a atmosfera. O mais perto de música que chegamos é quando mamãe, e algumas vezes eu, cantarolamos enquanto lavamos a louça ou preparamos algo para o almoço. E não lemos notícias.
Simplesmente nos desligamos de tudo, e nos concentramos na nossa paz aqui, nesse tempo e espaço, em casa uma com a outra. Manhãs de domingos são sagradas para descanso. 

***

Obrigada a Gih, a tati e a Dani que ajudaram a melhorar e deixar Hygge como está agora. Vocês são ótimas ♥

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Tchauzinho! 

9.7.17

Corpo

és minha casa,
minha única morada verdadeira,
meu abrigo nos melhores
e nos piores dias.
é "todos os meus destinos possíveis",
mas, às vezes, ainda queria "ir embora de você"

é grande.
é bom.
carrega minha alma,
minhas dores,
meus amores,
me carrega por aí.
carrega as minhas marcas
e as suas próprias.

é meu meio de expressão.
expressa minha raiva,
meu amor,
meu carinho,
me dá prazer.

é admirado.

queria eu
lhe admirar
mais.