Maria a tinha visto um ano atrás, também no
sete de setembro.
Não por acaso insistiu com a família para
alugarem com os tios a mesma casa de praia para o feriado deste ano. Ninguém
sabia que um ano antes naquela noite que Maria voltou de manhãzinha antes de
qualquer um acordar estava com a garota dona da casa vizinha. Não sabiam que
elas tinham dormido na praia, perto das pedras altas e escuras do lado sul,
porque estavam cansadas demais para se darem conta que estavam caindo no sono
sobre um cobertor na areia depois de terem andado tanto e beijado tanto.
Ninguém sabia de nada sobre aquele sábado perfeito antes de tudo acabar num
domingo cinzento. Então não houveram desconfianças de seus motivos.
E a própria Maria tentava não pensar que muito dos seus
motivos giravam ao redor de uma mesma garota de olhos grandes e pretos.
Ocupava-se com os outros, que não tinham a ver com ela: A praia com poucas
pessoas; a sorveteria há alguns quarteirões de distâncias com o melhor milkshake de café com creme de avelã que
ela já havia provado; as conversas com o primo Otávio que adorava tanto, mas
via tão pouco; o café da manhã na mesa grande compartilhado com toda a família;
as caminhadas com a mãe e a tia ao pôr do sol.
No entanto, quando o carro parou em frente à casa e sua
irmã mais nova saiu correndo, carregando a pelúcia de robô que havia ganhado no
último aniversário, Maria não conseguiu evitar olhar para os vizinhos,
perscrutar a entrada em busca de indícios da presença dela, mas não havia
qualquer sinal de que haviam pessoas lá, de que ela estava lá.
Percebeu que o feriado poderia se transformar em longos
dias angustiantes na dúvida crescente se ela estaria ali, se a veria, como
estaria...? Ainda teria os cabelos no ombro? Ainda poderia segurar sua mão?
Entregar todos os beijos que passou o último ano querendo entregar? Ainda
pegaria no sono cansada e acordaria outra vez ao seu lado, sem saber bem como
aquilo havia acontecido? Encontraria seus olhos e pensaria que amava aquela
garota que mal conhecia, e diria em voz alta sem pensar, mesmo sabendo que não
poderia amar alguém assim tão rápido?
Percebeu que estava com saudades de tudo e, enquanto puxava
sua mala do porta malas cheio, desejou baixinho que houvesse uma segunda vez
para elas.
***
Maria havia ficado sozinha na praia depois de Otávio ir
tentar a sorte em conseguir alguma bebida da cozinha sem que seus pais vissem,
com sorte o champanhe. Mas já fazia um tempo desde que ele havia subido e não
voltara ainda. O sol havia se posto agora e a escuridão começava lenta e
gradativamente a encobrir tudo.
Maria não estava preocupada, no entanto, o dia havia sido
longo e praticamente perfeito com seu primo na praia. Quase não pensou em sua vizinha,
quase porque ela acabava aparecendo no fundo de sua mente quando menos esperava
por conta de um sorriso, uma piada, um canto específico da praia.
Maria deixou a cabeça cair para trás até recostar na
cadeira e ficou encarando o céu esperando as primeiras estrelas.
Ela ouviu Otávio se aproximando e o barulho do seu corpo ao
sentar-se ao seu lado.
— Conseguiu o champanhe? — um sorriso veio automaticamente,
e sentiu que isso também pedia um pouco de esforço, estava mais cansada que
imaginou.
Não houve respostas, mas uma risadinha veio logo. Maria
voltou sua cabeça ao normal antes de conseguir ver a primeira estrela. Era ela ao seu lado, os olhos pretos
pareciam ainda maiores e mais profundos, seus lábios desenhavam um sorriso
sereno e Maria quis beijá-la, sem dizer nada antes, sem perguntar coisa alguma,
sem acabar de absorver sua presença primeiro. O cansaço sumiu de seu corpo como
se nunca houvesse estado.
— Oi! — Seus olhos estavam fixos em Maria como os de Maria
nela.
— Oi — se obrigou a dizer e tentou em vão parar de
encará-la.
Maria olhou com mais cuidado agora, ela estava diferente do
que se lembrava, os detalhes haviam sumido da sua mente nesse intervalo de um
ano, percebeu. A pinta na bochecha, o espaço entre os dentes... havia se
esquecido. O cabelo, no entanto, continuava o mesmo, em ondas caindo até os
ombros. Sua pele estava queimada de sol, e as bochechas pareciam começar a
descascar, mas na pouca luz era difícil ter certeza.
— Quer mergulhar?
— Claro— não precisou pensar para responder.
Maria tentou não encarar enquanto sua
companhia tirava a blusa na cadeira ao lado, depois correram para o mar. O
vento bagunçava os cabelos de Maria e isso a fazia rir.
Depois, quando se beijaram na água seus lábios
estavam salgados. Ia tudo dar errado, mas Maria não se importou com isso e
sabia que para ela também não importava. A beijou outra vez, era só isso que
importava agora.
-Helena Guimarães
***
HELENA, QUE TENTATIVA DE HOMICÍDIO É ESSA?????? EU NÃO TAVA PRONTA E AGORA MORRI!!!1 AAAAAAAAA QUE CONTO LINDO AMIGA
ResponderExcluirAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
ExcluirNÃO SEI LIDAR COM ESSE COMENTÁRIO, OBRIGADA, GIU ♥♥