26.12.18

Um ano que eu não vou saber resumir

... não que eu saiba resumir algo.

Como todos os anos 2018 passou muito rápido para mim, mas ao mesmo tempo quando eu lembro das coisas que aconteceram antes de julho parecem outra vida. Ainda vou acabar escrevendo algo sobre a nossa percepção do tempo e a loucura de tudo isso, mas uma outra hora.

2018 também foi um ano merda de forma coletiva, e sei que todos os meus amigos sentem isso, mas outra coisa que senti e percebi que, principalmente, minhas amigas estavam sentindo é que pessoalmente e individualmente também foi um ano que nos trouxe boas realizações (na maioria internas e pequenas) e crescimento, aprendizado e um pouco da percepção das coisas pelas quais devemos ser gratas.

Resumir 2018 em uma palavra ou frase parece muito difícil, e não acho que me esforçarei em tentar porque não é preciso. 2018 foi difícil, deu medo do agora e do futuro, foi cheio de incerteza, insegurança e decisões que nem sabia se estava preparada para tomar, confusão, frustração e estresse. 

Mas também foi cheio de amigos, de carinho e de vida. De crescimento e um pouco de coragem, de redescobrir e relembrar verdades esquecidas. De terapia, e um pouquinho de espiritualidade. De sentir um tiquinho o gosto da liberdade, de precisar olhar para confusão mental e arregaçar as mangas para lidar com a ansiedade que consome. 

No Natal eu acordei com duas cartinhas muito especiais de pessoas muito queridas no meu email, que me fizeram lembrar de muitos sentimentos bons e querer escrever isto aqui, que me fizeram pensar que tá tudo bem, nós estamos aqui. É difícil aceitar as rosquinhas da vida, a vulnerabilidade necessária, os riscos de sair da caverna, mas eu sei e gosto de continuar acreditando que valerá a pena, que nós vamos ficar bem, ser feliz, dar certo como pessoa e todas essas frases cafonas que eu AMO/SOU. 

Continuemos.

21.12.18

Eu não sou uma pessoa que corre
Eu ando

Normalmente,
eu
ando

Só que
em alguns dias
eu corro

Mesmo sem fôlego
eu corro

Mesmo pesando
eu corro

Porque não tenho fôlego
eu corro

Porque está pesado
eu corro

Para tentar achar ar
Para ficar mais leve
Eu corro

Hoje eu corri



20.12.18

Meu peito não consegue inspirar todo o ar que preciso.
Meus braços são curtos demais para abraçar o mundo que quero.
Meus passos muito pequenos para chegar tão rápido.

O tempo não é o suficiente.

- Angústia

9.12.18

Quando bate aquela saudade

Maria a tinha visto um ano atrás, também no sete de setembro.
Não por acaso insistiu com a família para alugarem com os tios a mesma casa de praia para o feriado deste ano. Ninguém sabia que um ano antes naquela noite que Maria voltou de manhãzinha antes de qualquer um acordar estava com a garota dona da casa vizinha. Não sabiam que elas tinham dormido na praia, perto das pedras altas e escuras do lado sul, porque estavam cansadas demais para se darem conta que estavam caindo no sono sobre um cobertor na areia depois de terem andado tanto e beijado tanto. Ninguém sabia de nada sobre aquele sábado perfeito antes de tudo acabar num domingo cinzento. Então não houveram desconfianças de seus motivos. 
E a própria Maria tentava não pensar que muito dos seus motivos giravam ao redor de uma mesma garota de olhos grandes e pretos. Ocupava-se com os outros, que não tinham a ver com ela: A praia com poucas pessoas; a sorveteria há alguns quarteirões de distâncias com o melhor milkshake de café com creme de avelã que ela já havia provado; as conversas com o primo Otávio que adorava tanto, mas via tão pouco; o café da manhã na mesa grande compartilhado com toda a família; as caminhadas com a mãe e a tia ao pôr do sol. 
No entanto, quando o carro parou em frente à casa e sua irmã mais nova saiu correndo, carregando a pelúcia de robô que havia ganhado no último aniversário, Maria não conseguiu evitar olhar para os vizinhos, perscrutar a entrada em busca de indícios da presença dela, mas não havia qualquer sinal de que haviam pessoas lá, de que ela estava lá. 
Percebeu que o feriado poderia se transformar em longos dias angustiantes na dúvida crescente se ela estaria ali, se a veria, como estaria...? Ainda teria os cabelos no ombro? Ainda poderia segurar sua mão? Entregar todos os beijos que passou o último ano querendo entregar? Ainda pegaria no sono cansada e acordaria outra vez ao seu lado, sem saber bem como aquilo havia acontecido? Encontraria seus olhos e pensaria que amava aquela garota que mal conhecia, e diria em voz alta sem pensar, mesmo sabendo que não poderia amar alguém assim tão rápido? 
Percebeu que estava com saudades de tudo e, enquanto puxava sua mala do porta malas cheio, desejou baixinho que houvesse uma segunda vez para elas.
 ***
Maria havia ficado sozinha na praia depois de Otávio ir tentar a sorte em conseguir alguma bebida da cozinha sem que seus pais vissem, com sorte o champanhe. Mas já fazia um tempo desde que ele havia subido e não voltara ainda. O sol havia se posto agora e a escuridão começava lenta e gradativamente a encobrir tudo. 
Maria não estava preocupada, no entanto, o dia havia sido longo e praticamente perfeito com seu primo na praia. Quase não pensou em sua vizinha, quase porque ela acabava aparecendo no fundo de sua mente quando menos esperava por conta de um sorriso, uma piada, um canto específico da praia.
Maria deixou a cabeça cair para trás até recostar na cadeira e ficou encarando o céu esperando as primeiras estrelas. 
Ela ouviu Otávio se aproximando e o barulho do seu corpo ao sentar-se ao seu lado.
— Conseguiu o champanhe? — um sorriso veio automaticamente, e sentiu que isso também pedia um pouco de esforço, estava mais cansada que imaginou.
Não houve respostas, mas uma risadinha veio logo. Maria voltou sua cabeça ao normal antes de conseguir ver a primeira estrela. Era ela ao seu lado, os olhos pretos pareciam ainda maiores e mais profundos, seus lábios desenhavam um sorriso sereno e Maria quis beijá-la, sem dizer nada antes, sem perguntar coisa alguma, sem acabar de absorver sua presença primeiro. O cansaço sumiu de seu corpo como se nunca houvesse estado.
— Oi! — Seus olhos estavam fixos em Maria como os de Maria nela. 
— Oi — se obrigou a dizer e tentou em vão parar de encará-la.
Maria olhou com mais cuidado agora, ela estava diferente do que se lembrava, os detalhes haviam sumido da sua mente nesse intervalo de um ano, percebeu. A pinta na bochecha, o espaço entre os dentes... havia se esquecido. O cabelo, no entanto, continuava o mesmo, em ondas caindo até os ombros. Sua pele estava queimada de sol, e as bochechas pareciam começar a descascar, mas na pouca luz era difícil ter certeza. 
— Quer mergulhar? 
— Claro— não precisou pensar para responder.
Maria tentou não encarar enquanto sua companhia tirava a blusa na cadeira ao lado, depois correram para o mar. O vento bagunçava os cabelos de Maria e isso a fazia rir. 
Depois, quando se beijaram na água seus lábios estavam salgados. Ia tudo dar errado, mas Maria não se importou com isso e sabia que para ela também não importava. A beijou outra vez, era só isso que importava agora. 

-Helena Guimarães
***